exibições de letras 1.265

Quando Às Vezes Ponho Diante Dos Olhos

Fausto

LetraSignificado

    Quando às vezes ponho diante dos olhos
    A lusitana viagem medonha que eu dobrei
    Os tormentos passados e os fados que chorei
    Arde o corpo em oração entre pecado e perdão
    Agonia o coração e arde o corpo
    Do cotovelo da terra á pestana do mundo
    Fui treze vezes cativo dezassete vendido
    Mataram os mares milhares num gemido
    Ai de mim sou missionário
    Foge cafre já sou corsário
    Marinheiro voluntário
    Ai de mim

    Quando às vezes ponho diante dos olhos
    A fúria da onda tremenda rasgada no vento
    O assombro da fronha de um monstro
    Que horrenda estampada no breu
    Ai meu Deus o aperto em que estou
    Olha o cobre e o ouro
    Olha o bobo que eu sou
    Que se escapa o tesouro
    Que me dá a fraqueza

    Enriquece bandido
    A saudade do Tejo
    O inventário da presa
    Meu amor dá-me um beijo
    Afasta-o do sentido
    E lá vou eu desvalido

    Quando às vezes ponho diante dos olhos
    Os trabalhos tremendos, os perigos que passei
    O Inferno maldito Infinito que afrontei
    Vem à boca uma prece
    A alma inteira estremece
    Arde
    Grita
    Enlouquece
    E vem à boca
    Um amargo de morte arrefece-me o corpo
    Um grande medo
    Meu Deus
    Que estala no peito
    Só o meu coração respira amores perfeitos
    Que eu nem conto em segredo
    Que eu risquei do enredo
    Num latino arremedo
    Que eu nem conto
    Quando às vezes ponho diante dos olhos
    Cobras
    Lagartos
    Mostrengos
    Horríveis
    Sarnentos
    O delírio dos rios
    Das selvas ardentes
    Da febre a queimar
    A matar
    Terra à vista
    Atenção

    Espia como mercador
    Eu cá sou benfeitor

    Assalta como ladrão
    Olha o rombo na quilha

    Olha a tua quadrilha
    Quem me dera estar longe

    Empunha o machado
    Ser um anjo ser monge

    Aguenta safado
    Sendo o mais enjeitado

    De Lisboa prá Índia
    Da Tartária ao Sião
    Da China à Etiópia
    De Ormuz ao Japão
    P' lo Cabo do Mundo
    Passei por um triz
    Da Ilha Maluca
    À Arábia Feliz
    São de todas as cores
    As paixões os ardores
    Na voragem do cio
    O amor aplacado
    Entre esteiras deitado
    No porão do navio
    Vai o sonho entornado

    Quando às vezes ponho diante dos olhos
    As guerras
    Assaltos e gritas
    O sangue a jorrar
    A alagar
    Os turcos
    Senhora bendita
    Lançados ao mar
    A afundar
    Tangendo panelas

    P'ró diabo que os leve
    Infiéis tagarelas

    Filhos de Mafamede
    Ai da vossa cegueira

    Dispara O roqueiro
    No rescaldo da afronta

    Amordaça o escravo
    Rezo pela desconta

    És cruzado és um bravo
    Dos pecados sem conta

    De Lisboa p' rá Índia
    Da Tartária ao Sião
    Da China à Etiópia
    De Ormuz ao Japão
    P' lo Cabo do Mundo
    Passei por um triz
    Da Ilha Maluca
    À Arábia Feliz
    São de todas as cores
    As paixões os ardores
    Na voragem do cio
    O amor aplacado
    Entre esteiras deitado
    No porão do navio
    Vai o sonho entornado
    Foi de fio a pavio
    P'ró diabo que os leve
    Infiéis tagarelas
    Filhos de Mafamede
    Ai da vossa cegueira
    Dispara o roqueiro
    Amordaça o escravo
    És cruzado és um bravo
    Espia como mercador
    Assalta como ladrão
    Olha o rombo na quilha
    Empunha o machado
    Olha a tua quadrilha
    Aguenta safado
    Dos pecados sem conta
    És o mais enjeitado
    O aperto em que estás
    Olha o cobre e o ouro
    Que se escapa o tesouro
    Que te dá a fraqueza
    Enriquece bandido
    No rescaldo da afronta
    Ai quem te dera estar longe
    Ser um anjo ser monge
    Reza pela desconta
    Entre apupos e gritas
    De mãos alevantadas
    Treme o bom jesuíta
    Ai Jesus que embrulhada
    Em pouco mais de dois credos
    Dois mil mortos no chão
    Pelejando um milhão
    Soçobrados em sangue
    Estalam mil bofetadas
    No traseiro de um cafre
    Sobrevoa o milhafre
    Seis cabeças rachadas
    Muitas feridas e chagas
    Numa grande chacina
    Entre insultos e pragas
    Chovem panelas de urina
    Vinte e três afogados
    Trinta e quatro perdidos
    Nus e ajoelhados
    Sem contar os aflitos
    Pelas pernas abaixo
    Vai o pobre de mim
    De Quedá a Samatra
    De Malaca a Pequim
    Fugindo a sete pés
    Quando estoira o convés
    Perde-se ouro o provento
    A prata fina a saúde
    Mas glória santa me ajude
    A dar graças a Deus
    Misericórdia infinita
    Pois eu não me lamento
    Se ao fim de tantos tormentos
    Escapei deles com vida
    O Senhor seja louvado
    Santos apostolados
    Viva eu entre os mortais
    Pois não mereci mais
    Por meus grandes pecados


    Comentários

    Envie dúvidas, explicações e curiosidades sobre a letra

    0 / 500

    Faça parte  dessa comunidade 

    Tire dúvidas sobre idiomas, interaja com outros fãs de Fausto e vá além da letra da música.

    Conheça o Letras Academy

    Enviar para a central de dúvidas?

    Dúvidas enviadas podem receber respostas de professores e alunos da plataforma.

    Fixe este conteúdo com a aula:

    0 / 500

    Opções de seleção