Rio 40 Graus

Contrastes e identidade carioca em “Rio 40 Graus”

Em “Rio 40 Graus”, Fernanda Abreu apresenta um retrato direto e multifacetado do Rio de Janeiro, destacando a dualidade entre beleza e caos. A expressão “purgatório da beleza e do caos” sintetiza essa contradição, mostrando como a cidade encanta por sua paisagem e cultura, mas também enfrenta violência, desigualdade e desordem. O verso “governos misturados, camuflados, paralelos, sorrateiros, ocultando comandos” evidencia a crítica à complexa rede de poderes que atua no Rio, incluindo não só o governo oficial, mas também milícias, tráfico e outras formas de autoridade informal, refletindo o contexto histórico da época.

A letra percorre diferentes camadas sociais ao citar “submundos” e “submáfias”, abrangendo desde camelôs e madames até deputados e crianças, para mostrar como as diversas realidades da cidade se misturam e se sobrepõem. A referência à “cachorrada doentia” em vários bairros reforça que o caos e a violência atravessam todas as classes e regiões. Por outro lado, a menção à “novidade cultural da garotada” e à “batucada digital” destaca a criatividade das periferias e o surgimento do funk carioca, gênero que a própria Fernanda Abreu ajudou a popularizar. O uso de samples de clássicos da MPB no final reafirma a identidade cultural do Rio. Ao sugerir uma atualização para “Rio 50 Graus”, a música se mantém relevante ao abordar temas atuais como as mudanças climáticas, consolidando-se como um retrato crítico e celebratório da cidade.