O Menino Que Não Fui

Infância marcada pela solidão em “O Menino Que Não Fui”

A música “O Menino Que Não Fui”, interpretada por Fernando Maurício e escrita por Mário Raínho, retrata de forma direta a infância difícil do narrador, marcada pela ausência de sonhos e pela necessidade precoce de enfrentar adversidades. O verso “Cresci no tempo a correr / Sem direito de sonhar” resume essa realidade: o personagem não pôde viver a inocência da juventude, pois foi obrigado a amadurecer cedo devido às circunstâncias. O contexto da letra reflete experiências reais de privações e responsabilidades, comuns em bairros populares de Lisboa, onde o fado é tanto consolo quanto voz para quem vive à margem da sociedade.

A solidão é um elemento central, evidenciada em versos como “Tive a noite por guarida” e “Por enxerga, a fria rua”, que mostram uma infância sem lar ou proteção, tendo apenas o fado como companhia. O trecho “Cresci à margem da vida / Ao lado da solidão / Coberto p'la luz da lua” reforça o isolamento e a sensação de viver à parte da normalidade. O desejo de “voltar a nascer” e “sonhar um só momento” expressa o lamento por não ter tido a chance de ser criança e aproveitar pequenas alegrias. A estrutura em sextilhas e a interpretação intensa de Fernando Maurício ampliam a carga emotiva da canção, típica do fado tradicional, transmitindo saudade e resignação diante de um destino difícil.