Celebridade

“Celebridade”: crítica à fama e à cultura do barraco

O refrão de “Celebridade” funciona como um manual irônico de “como virar famoso no Brasil”, mais do que um simples recado para a ex. A narrativa é direta: um ex-namorado descreve que, depois do término, ela virou “barraqueira”, sobe na mesa, fala alto, diz que o esnobou e tenta capitalizar atenção — “Cê tá virando celebridade”. O tom é de ironia, impaciência e desapego: ele reconhece que ela “tá famosa”, mas corta o vínculo com um “me tira fora dessa”, deixando claro o limite — ficar conhecido por barraco não o convence a voltar. Essa leitura casa com a intenção crítica da canção, composta por Sorocaba, sobre quem busca holofote por atitudes extravagantes.

As referências pop são o coração da sátira. A letra lista “vira atriz de novela”, “faz foto sensual”, “sobe na passarela”, “vai pra um reality show” e exagera no midiático com “raspa o cabelo no zero” — gestos pensados para render manchete. “Dá o golpe no cara certo” tem duplo sentido: pode ser o “golpe do baú”, a busca por um parceiro que renda status e dinheiro — ligada ao estereótipo popular de “maria gasolina” —, mas também sugere qualquer jogada para hackear a fama. Ao usar “barraqueira” para rotular o exibicionismo, a música reforça o recado: se a vontade é aparecer, há “caminhos” mais convencionais, mas ele não vai servir de escada. Humor, linguagem popular e crítica social ajudam a explicar por que “Celebridade” virou um marco da primeira década de Fernando e Sorocaba e peça certa nos shows — o público reconhece tanto a piada quanto o retrato do nosso culto ao espetáculo.