Estereótipo

“Estereótipo” e a força da mulher rural independente

Em “Estereótipo”, Fernando e Sorocaba viram o clichê do avesso: o rótulo vira preferência. A personagem não é figurante; ela conduz tudo — chama, dirige a caminhonete e dita o ritmo da noite. A letra constrói a “cowgirl” com imagens concretas do campo: “de boné, calça jeans, bota e fivela”, “cresceu em cima de um cavalo e de um trator”. O gosto por aventura aparece em “Quanto mais adrenalina melhor”. Há também o equilíbrio típico do interior: “igreja ou no rodeio”, churrasco e pescaria, bar até amanhecer, e a mãe que “sabe de tudo, menos das suas tatuagens”. Quando o narrador crava “Se buscar o que é cowgirl lá no dicionário / Vai achar você”, reforça o retrato já apontado nas divulgações de lançamento. E é ela quem convida: “Passa lá em casa que hoje eu vou te mostrar”, sinalizando autonomia afetiva e sexual.

O tema central é celebrar a mulher rural independente, imprevisível e segura do que quer, sem moralismo nem caricatura. O título carrega duplo sentido: “estereótipo” como rótulo do senso comum e, ao mesmo tempo, como “meu tipo”, uma preferência assumida. As figuras são diretas: “lado selvagem” indica sede de liberdade; “cresceu em cima” é hipérbole que reforça a raiz no campo; “tocar o terror” é gíria de farra com as amigas. O tom confiante combina com a dinâmica da dupla, que costuma escrever a partir de vivências (Sorocaba já afirmou que cerca de 80% das músicas nascem de experiências reais). Por isso, a canção soa precisa nos detalhes rurais e passa energia, orgulho do interior e uma visão moderna da “cowgirl” brasileira: ao volante, dona do corpo e da noite.