Avec le temps

A transitoriedade do amor em "Avec le temps" de Léo Ferré

"Avec le temps", de Léo Ferré, aborda de forma direta a desilusão que surge com o fim do amor, mostrando como até as lembranças mais marcantes e as paixões mais intensas acabam se apagando com o passar dos anos. O verso “On oublie le visage et l'on oublie la voix” (A gente esquece o rosto e esquece a voz) ilustra essa perda gradual da memória afetiva, enquanto a repetição de “Avec le temps, va, tout s'en va” (Com o tempo, vai, tudo vai embora) reforça a inevitabilidade do esquecimento. O contexto pessoal de Ferré, que escreveu a música após a separação de sua esposa Madeleine, dá ainda mais peso à sinceridade e ao tom melancólico da letra, tornando sua experiência particular um reflexo universal da dor do fim de um relacionamento.

A canção utiliza imagens marcantes, como “A la gal'rie j'farfouille dans les rayons d'la mort” (Na galeria, eu fuço nas prateleiras da morte), para expressar a busca inútil por vestígios do passado. Metáforas como “on se sent blanchi comme un cheval fourbu” (a gente se sente embranquecido como um cavalo exausto) transmitem o cansaço e o desgaste emocional causados pelo tempo. O trecho “on se sent glacé dans un lit de hasard” (a gente se sente gelado numa cama de acaso) sugere a solidão e o vazio após a perda do amor, enquanto “on se sent floué par les années perdues” (a gente se sente enganado pelos anos perdidos) evidencia o sentimento de ter sido traído pelo tempo e pelas ilusões do passado. Ao final, a frase “On n'aime plus” (A gente não ama mais) resume a resignação e a aceitação amarga de que, com o tempo, até a capacidade de amar pode desaparecer. Ferré costumava encerrar seus shows com essa música, pedindo silêncio ao público, o que reforça o caráter introspectivo e a profundidade emocional da obra, convidando à reflexão sobre a transitoriedade dos sentimentos humanos.