One Winged Angel

Rito de invocação e destino em “One Winged Angel”

Ao fundir versos da Carmina Burana a um nome próprio, a faixa transforma poemas medievais sobre ira, sorte e súplica em um ritual que consagra o vilão. O coro não descreve Sephiroth; ele o convoca. “Estuans interius, ira vehementi” (ardendo por dentro, com ira violenta) estabelece o impulso emocional que move o personagem, enquanto “Sors immanis et inanis” (destino monstruoso e vazio) traz a ideia de fatalidade. Em “Veni, veni, venias, ne me mori facias” (venha, venha, venha, não me deixe morrer), o texto pode soar como a súplica de seguidores que o chamam ou como a própria recusa dele em perecer, reforçando a aura de invocação. O título One Winged Angel ancora esse destino: a asa única de sua forma final evoca queda e corrupção, ecoando a figura demoníaca de Abezethibou, e prepara um confronto que parece inevitável.

O impacto nasce do encontro entre forma e conteúdo. Foi a primeira música da série com vocais digitalizados, e o latim — extraído de “Estuans Interius”, “O Fortuna”, “Veni, Veni, Venias” e “Ave Formosissima” — ganha função de liturgia de poder. Nobuo Uematsu montou a peça a partir de frases curtas, depois organizadas, o que explica a estrutura incantatória. A mistura de energia do rock 60/70 com tensão rítmica à la Stravinsky (A Sagração da Primavera) sustenta a sensação de rito violento. O grito “Sephiroth!” funciona como nome de poder — um refrão-mantra que sela etapas e amplia a tensão. Assim, coro e repetição não só engrandecem a batalha final: dramatizam a ira, a submissão ao destino e a presença que excede o humano, fixando Sephiroth como ícone da franquia ファイナルファンタジー (Final Fantasy).