Ótima

“Ótima” e o foco no amor acima das vitórias eufóricas

O refrão já aponta o eixo da canção ao transformar até conquistas em risco de distração: “Que nada nos distraia do amor / Nem mesmo as vitórias da vida”. Ao citar “confetes e serpentinas”, Flaira Ferro convoca o Carnaval nordestino para mostrar que euforia, fama e celebração também desviam do foco afetivo. Essa ideia dialoga com o álbum Virada na Jiraya (2019), que propõe empoderamento com os pés no chão e conexão humana, não um triunfalismo vazio.

A narrativa é uma virada íntima e prática. “Tenho mil defeitos / Fiz deles piada” e “Tirei a armadura / Das mágoas antigas” mostram vulnerabilidade convertida em força. O movimento culmina no convite relacional: “Tô de peito aberto / E te quero perto”. Essa autoaceitação se abre para o coletivo: “Solidária ao mundo” e “Dessas que dão jeito / Nas causas do medo” traduzem o empoderamento em atitudes cotidianas de cuidado e coragem.

Na segunda metade, a canção redefine sucesso: “Livre da agonia / De chegar primeiro / Grande é ser inteiro”. Em vez de competição, escolhe presença e pertencimento. “Confiar na fonte / Tecelã do instinto” e “Ser por excelência / Mapa e tesouro” sugerem a intuição como guia e destino, sustentada por raízes culturais. Já “Otimista e cósmica / Conectada ao pulso” remete ao compasso da música e ao batimento coletivo, enquanto “cantar em coro” expande o eu para o comum. No conjunto, “Ótima” celebra autoconhecimento sem narcisismo: tudo deve conduzir ao amor, inclusive as vitórias, sem deixar que elas determinem o caminho.