Exhausted

“Exhausted” entre culpa, torpor e ruído no pós-Nirvana

Composta ainda na fase final do Nirvana, “Exhausted” soa como um luto antecipado: um inventário de culpa, cansaço e desorientação que ficou mais nítido após a morte de Kurt Cobain. As frases truncadas e os “erros” propositais — “have costed” (custaram), “taught” (ensinado) — transformam confusão em forma, reforçando o torpor de “Exhausted and lost” (exausto e perdido). A letra oscila entre a vontade de desfazer o passado, em “If it could be undone” (se isso pudesse ser desfeito), e a sensação de lições aprendidas e logo perdidas, em “It’s taught / And lost” (foi ensinado / e perdido), como quem tenta decifrar o caos e só encontra desgaste.

Quando ele repete “at fault” (culpado), o sentido varia entre assumir culpa e encarar fissuras. “What if the day had stayed in bed?” (e se o dia tivesse ficado na cama?) deseja que o dia nem comece, enquanto “These baubles we’ve brought” (esses bibelôs que trouxemos) aponta para troféus vazios do sucesso. “After the bliss has long ended / This caution, this fault” (depois que o êxtase já terminou há muito / esta cautela, esta falha) é o depois do auge; “Accosted, adult / Arrested” (acossado, adulto / detido) mistura cobrança por maturidade com paralisia. Esse estado se molda no som: a parede de feedback e o timbre de guitarra incomum — fruto do amp “estranho” que o produtor Barrett Jones trouxe de Londres — entregam o “Give me a breeze that’s long winded” (me dê uma brisa prolongada), um zumbido que entorpece. Saber que Cobain gostava da faixa (informação que Dave Grohl recebeu via Pat Smear, já após a morte de Kurt) e que era uma das favoritas de Dave nas sessões do primeiro disco amplifica o peso emocional. Lançada em 1995, tocada na Self-Pollution Radio, chega como cartão de visita do Foo Fighters, herdeira do grunge/noise de In Utero — algo que a Spin e a Kerrang! destacariam ao elogiar o ruído e essa estética.