Museu da Minha Vida
Francisco e Fernando
Vendi meu carro e minha boiada carreira
Guardei no quarto pra ter de recordação
A minha tralha do meu tempo de carreiro
Quando eu rodava nas estradas do sertão
Entre os guardados ficou uma velha guampa
De chifre longo, pra transportar o azeite
O meu ferrão sem a vara de marmelo
Sem serventia hoje só ficou de enfeite
Ficou o chumaço e uma canga de aroeira
Quatro canzis, um fueiro e uma gamela
Uma espingarda e um facão enferrujado
O meu balaio e um cinturão sem a fivela
Das duas rodas, guardei todos os rosalhos
Uma peneira toda feita de taquara
Um eixo gasto pelo peso de sua carga
A cantadeira já sem óleo ressecada
Tenho guardado na memória um canto triste
Desentoado pelo tempo e o progresso
Hoje eu carrego na lembrança o meu passado
Pesado fardo de saudade eu lhe confesso
Hoje esse quarto é o museu da minha vida
Onde eu espero que passe o carro do tempo
Leve o carreiro pra derradeira partida
Pra uma viagem com passagem só de ida
Pra uma viagem com passagem só de ida
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