Debate Sobre a Erva

“Debate Sobre a Erva”: hipocrisia, fetiche e proibição

“Debate Sobre a Erva”, de Froid com Pedro Qualy, não faz apologia: expõe a hipocrisia em torno da proibição e encara as contradições dos próprios narradores. No verso de Froid, o trocadilho “A proibição é um saco então / Drogas no saco…” junta o incômodo com o ato de esconder substâncias em saco de pão ou embalagem a vácuo, mostrando como a lei empurra tudo para a clandestinidade. A ironia aparece em “Armas não matam pessoas… Drogas machucam pessoas só por diversão”, apontando o moralismo que transforma a droga na vilã, enquanto o problema real está em políticas e escolhas. O fetiche surge sexualizado em “Eu misturo maconha com sexo / É um fato que aumenta o tesão” e na cultura pop: querer alguém “sexy e esperta igual à senhorita Smith” contrasta com “o hype da Rihanna não o da Gisele Bundchen”, sinal de que ele busca substância, não só vitrine. O duplo sentido de “pó” e “notas” culmina em “Eu sou um hipócrita odeio o pó que tá / No resto das notas… / Bem mais opções que sua sacola dá”, criticando a glamurização do pó e defendendo a escola como horizonte.

Em Pedro Qualy, o tema da legalização encontra a vida adulta e a classe social. O ciclo familiar pesa em “Meu pai louco… A cerveja que prometeu te acalmar”. Ao virar pai, ele tenta romper o padrão ao colocar a filha num colégio “que só os burguês pisa”, mas esbarra no estigma: a amiga Duda não pode colar, e ele sente “minhas escolhas de adolescente refletir em gente inocente”. Em “Proibição que cega a mente dos que segue a mídia / E depois de velho tenho que fazer média?”, ele questiona o policiamento moral que a proibição alimenta. A faixa costura prazer, culpa, mídia e paternidade para afirmar que o problema não é a erva isolada, e sim o arranjo social que a cerca: fetiche, criminalização e máscaras de respeitabilidade.