Não Se Preocupe Comigo

Violência e memória coletiva em "Não Se Preocupe Comigo"

"Não Se Preocupe Comigo", da banda F.U.R.T.O, destaca-se por abordar o desaparecimento forçado não apenas como uma tragédia individual, mas como um problema social que afeta toda a comunidade. O verso “Eu sumi e eles podem levar um outro filho seu” conecta a letra a casos emblemáticos como os das Mães de Acari, no Brasil, e das Mães da Praça de Maio, na Argentina, ambas citadas explicitamente na canção. Essas referências ampliam o alcance da música, mostrando que a violência policial e o sumiço de pessoas são questões estruturais e recorrentes na América Latina, e não episódios isolados.

A letra traz críticas diretas à impunidade, como em “sem corpo, sem prova, sem prova, sem crime”, evidenciando a dificuldade de responsabilizar os culpados nesses casos. O trecho “As vítimas não encontradas somos todos nós” reforça que o desaparecimento afeta toda a sociedade, seja pela insegurança, seja pela sensação de injustiça. Ao mencionar “os cemitérios clandestinos da justiça”, a música denuncia a ocultação de crimes e a negligência do Estado. O narrador sugere que sua história pode ser “psicografada, nunca esquecida ou requerida”, indicando que a memória dos desaparecidos resiste ao esquecimento oficial. Por fim, o alerta “não se preocupe comigo, mas com a época que devora caminhos e destinos” amplia a crítica para o tempo presente, marcado pelo apagamento de histórias, e convida à reflexão sobre a importância da memória e da justiça.