Cartier (part. Xavi)

Entre luxo, madrugada e desamor em “Cartier (part. Xavi)”

Em “Cartier (part. Xavi)”, o Cartier não é só ostentação; é o relógio marcando a madrugada enquanto ele se anestesia, “pasar las horas en el Cartier” (passar as horas no Cartier). O verso “Polvos, Barbies y tequila” (pós, Barbies e tequila) codifica balada e excesso — pó/cocaína, pílulas cor-de-rosa e álcool — e ainda aciona o duplo sentido de “polvos” como sexo casual. No meio da ressaca, ele divide a culpa: “No me eches la bronca / tú la cagaste también” (não bota a culpa em mim / você também pisou na bola), mas deixa o ranço por ter sustentado a vida dela: “te patrociné” (eu banquei você). O luxo do título vira vitrine de um consumo que mascara o vazio.

O refrão insiste em “otra pinche amanecida” (outra maldita madrugada virada): ele vira a noite, se entorpece e, ainda assim, “no te olvido todavía” (ainda não te esqueço). A falta de encerramento — “Ni una puta despedida” (nenhuma maldita despedida) — alimenta a dúvida e o apego. A narrativa vai do desabafo orgulhoso à lucidez amarga: “Qué pendejo, pensando que iba a ser pa’ siempre” (que idiota, achando que ia ser pra sempre), até admitir “no fue suficiente pa’ que te quedaras” (não foi suficiente pra você ficar). Na dinâmica da dupla, Gabito carrega o timbre norteño/mariachi com pose ferida, enquanto Xavi entra mais íntimo — “¿Y dónde estarás?” (e onde você estará?) —, reforçando a confissão romântica contemporânea. O clima de tumbado romántico, com guitarras suaves e cadência mansa — marca do Xavi —, combina com a pegada de desamor e excesso que o single prometia desde o trecho vazado no Supernova, que viralizou antes do lançamento oficial.