He Is

Ambiguidade divina e crítica à fé em "He Is" do Ghost

"He Is", do Ghost, passou por uma transformação marcante: de uma paródia de balada romântica italiana, tornou-se uma reflexão profunda sobre fé, existência e ambiguidade divina. A reescrita da música foi motivada pela morte de Selim Lemouchi, amigo de Tobias Forge, o que trouxe um tom mais sombrio e introspectivo à canção. A letra apresenta uma figura divina ambígua, referida como "He is", que representa tanto a luz quanto a rebeldia: “He's the shining and the light without whom I cannot see / And He is / Insurrection, He is spite, He's the force that made me be” (“Ele é o brilho e a luz sem os quais não posso ver / E Ele é / Insurreição, Ele é rancor, Ele é a força que me fez ser”). Essa entidade é essencial para a existência, mas também fonte de conflito, sugerindo uma divindade que une criação e destruição.

O uso de expressões em latim, como “Nostro dis pater” (nosso deus pai) e “Nostr'alma mater” (nossa alma mater), reforça o clima ritualístico e religioso. O videoclipe, ao satirizar cerimônias evangélicas, amplia a crítica à manipulação e ao fervor religioso. A referência ao “Morning Star” (Estrela da Manhã), associada tanto a Jesus quanto a Lúcifer, intensifica a ambiguidade da figura central, que pode ser vista como salvadora ou tentadora. O verso final, “And we are falling over the precipice” (“E estamos caindo sobre o precipício”), sugere entrega ao desconhecido, reforçando o tema da fé cega e do fascínio pelo abismo. "He Is" explora, assim, a complexidade das crenças, a atração pelo proibido e a busca de sentido diante do vazio, misturando reverência e ironia.