Dancing In the Smoke

Intimidade tóxica e trégua em “Dancing In the Smoke”

O refrão vira a pista de um desastre assumido: “Everything’s on fire” (está tudo em chamas) soa como convite para coreografar o caos. A linha “Don’t see eye to eye, but we’re nose to nose tonight” (não vemos as coisas do mesmo jeito, mas estamos cara a cara esta noite) evidencia o paradoxo de discordar em tudo e, ainda assim, grudar no corpo do outro. Como parte da trilha da 2ª temporada da série da Netflix Nobody Wants This, lançada por GIVĒON em 3 de outubro de 2025, a faixa expõe uma relação que persiste por impulso e vício afetivo: “Just can’t let you go” (simplesmente não consigo te deixar ir) e a repetição de “We dance in the smoke” (a gente dança na fumaça) indicam que o consolo vem do toque e da dança, não da solução dos conflitos. A voz grave e contida de GIVĒON reforça o clima de confissão tardia, em que ternura e risco se misturam.

A narrativa é cíclica, de idas e voltas: “Fourth time’s a charm… I’m coming back” (a quarta é a vencida… estou voltando) e “Back and forth, my love, do you love me back?” (vai e volta, meu amor, você também me ama?) sublinham esse pêndulo. Os sinais de briga são explícitos e até destrutivos — “Bleach on my clothes” (água sanitária nas minhas roupas), “pictures on fire” (fotos em chamas), “Shattered windows, slashing my tires” (janelas estilhaçadas, cortando meus pneus), “Spray paint the car when you’re hurting” (pintar o carro com spray quando você está magoada). Podem ser lidos literalmente (sabotagem e explosões de raiva) ou como metáforas de um amor “terra arrasada”, que queima memórias e marca o outro para não ser esquecido. “Everything’s on fire” (está tudo em chamas) carrega duplo sentido: incêndio emocional e desastre relacional. Mesmo assim, “Can I have this dance?” (posso dançar com você?) funciona como trégua sensual, enquanto “We dance in the smoke” (a gente dança na fumaça) sugere que ambos aceitam o rescaldo porque o apego fala mais alto que a razão.