Odaleia, Noites Brasileiras

Homenagem materna e resistência em “Odaleia, Noites Brasileiras”

Em “Odaleia, Noites Brasileiras”, Gonzaguinha presta uma homenagem emocionante à sua mãe, Odaléia, destacando tanto sua força quanto as dificuldades que enfrentou. Ao chamá-la de “heroína doente do peito” e “menina da luta”, o artista revela a admiração e a dor de crescer sem a presença materna, marcada por uma vida de sofrimento e resistência. O verso “Furando cartão, cantando nos becos / Tossindo nos cantos / O lenço na boca, o sangue” retrata a rotina exaustiva de Odaléia, que, mesmo debilitada pela tuberculose, continuava a se apresentar nas noites cariocas para sustentar a família e manter vivos seus sonhos artísticos.

A música também evidencia o contexto histórico de marginalização das mulheres negras e artistas pobres, especialmente em expressões como “compositora esmagada dessa barras brasileiras” e “minha morena catita / Ah! Minha preta”. Essas frases, além de demonstrarem carinho, ressaltam as dificuldades enfrentadas por Odaléia na sociedade brasileira da época. Gonzaguinha mistura imagens de luta, ternura e saudade, como em “Léia, retrato guardado em meu quarto / Minha Dalva, minha estrela guia”, associando a mãe à estrela Dalva, símbolo de esperança e orientação. O trecho “No ouro da lama / Nos mil desenganos” resume a busca de Odaléia por dignidade em meio à adversidade. Ao final, a repetição de “Te ouço / Te vivo / Te amo” reforça o vínculo entre mãe e filho, transformando a canção em um tributo sensível à memória materna e à força das mulheres que resistem nas margens da sociedade.