Amor

“Amor”: caminhos, espelhamentos e a força vital do afeto

“Amor” brinca com o espelhamento entre “Amor” e “Roma” e desmonta o ditado “todos os caminhos levam a Roma”: no amor, cada caminho é singular, sem rota garantida. O formato de conversa entre pai e filho transforma a canção numa pequena aula afetiva, cujo mistério permanece aberto, reforçado pela repetição da pergunta no final. A partir daí, Gonzaguinha define o sentimento como força que renova e revitaliza — “manhã de sol no coração”, “eterna floração”, “elixir-fonte da juventude” — imagens que apontam para o poder de rejuvenescer a vida. O verso “Amar bonito ser bonito estar / nos olhos de quem sente a gente / através da quente lente” mostra como o amor muda o olhar e a autoimagem: a pessoa se reconhece mais bela ao ser acolhida pela “quente lente” do afeto. Quando ele chama o amor de “rosa” “sem mazelas e espinhos”, idealiza a delicadeza e a pureza desse sentimento, algo a ser “plantado no jardim do nosso peito”.

A canção também atribui ao amor um vigor ético: “É flor que vende o homem e não derrota, nunca!”. Há quem ouça “vende” como variação de “vence”, abrindo sentidos próximos: o amor conquista, mas não humilha; ou “vende” no sentido de convencer, de entregar o coração — sempre como força transformadora, nunca opressora, coerente com a obra de Gonzaguinha. Imagens como “porta para o lado colorido”, “sonho bendito” e “delícia de vida” reforçam o tom sereno e esperançoso, enquanto o enigmático “Te morrer” soa como hipérbole de entrega total. Ao concluir com “Pra quem jamais amou, eterna vontade / Pra quem ama, felicidade” e repetir a pergunta inicial, a música afirma o amor como busca e plenitude, força vital que ergue, aquece e orienta sem impor um único caminho.