Mambo da Cantareira

Cotidiano e humor em "Mambo da Cantareira" de Gordurinha

"Mambo da Cantareira", de Gordurinha, retrata de forma bem-humorada a rotina exaustiva dos trabalhadores que moravam em Niterói e precisavam atravessar diariamente a Baía de Guanabara para trabalhar em Madureira, utilizando as barcas da Companhia Cantareira. O verso “Só vendo como é que dói / Trabalhar em Madureira e viajar na Cantareira / E morar em Niterói” expressa, com leveza, a frustração e o desgaste físico desse trajeto, uma realidade comum para muitos cariocas da época. O refrão “Vou aprender a nadar” aparece como uma piada sobre as dificuldades do transporte marítimo, sugerindo que nadar seria mais prático do que enfrentar os atrasos e a superlotação das barcas.

A escolha do mambo, ritmo latino animado, reforça o tom descontraído da música e reflete o estilo de Gordurinha, conhecido por misturar gêneros e trazer humor às suas composições. O trecho “De tanto viajar já to ficando bambo / Já to com o corpo mole de canseira” utiliza expressões populares para mostrar o cansaço acumulado, mas logo transforma a reclamação em convite à festa com “Vamos cantar o mambo Cantareira”. Assim, a canção transforma uma situação difícil em motivo de riso e dança, mostrando como o brasileiro enfrenta as adversidades do dia a dia com criatividade e bom humor. A menção ao significado de “Niterói” — “água abrigada ou escondida” em tupi — reforça a ligação da cidade com a travessia e o contexto da música.