Samba-Enredo 2025 - Krenak - O Presente Ancestral

Terra em “Samba-Enredo 2025 - Krenak - O Presente Ancestral”

A homenagem vira manifesto quando o samba recupera o gesto histórico de Ailton Krenak — "Meu preto jenipapo calou o seu discurso" —, transformando a pintura de jenipapo em afirmação pública de dignidade. As aspas em "Um 'marco' de memórias" jogam com o "marco temporal", criticando a tentativa de limitar direitos indígenas por data e conectando a letra à pauta de demarcação vista nos estandartes do desfile. Já "Academia fez meu nome imortal" aponta à conquista de Krenak como primeiro indígena na ABL, elevando a luta e inscrevendo a ancestralidade no cânone oficial.

A narrativa convoca origem e denuncia apagamento. "Levanta povo Tupi, o dono da terra" confronta a "selva de pedra" e o invasor, enquanto "Meu povo, cadê você?/Onde foi parar?" lista etnias — Caité, Carijó, Tupinambá, Cariri, Guarani, Potiguar — para afirmar presença e continuidade. O grito "Hey, há, hey! É fogo no invasor!" funciona como chamamento de resistência e retomada. "Sou rio que segue o curso" usa o rio como símbolo de permanência e circulação de saberes, em contraste com quem tenta barrar a história. A resposta é coletiva: "Evoco a ancestralidade" como fonte de força e verdade que o tempo não apaga.

No chão da G.R.E.S Mocidade Unida da Mooca, a mensagem é direta e pública: "A Mooca é luta, é resistência" e "A esperança é o Brasil cocar" dialogam com as faixas "Cocar é sagrado" e "Demarcação já", além da presença de Krenak no terceiro carro, tornando o "presente ancestral" literal e vivo. "Se a branca ignorância é o ato que não cessa", o samba responde com educação e cultura — "O meu samba ecoa na floresta" —, fazendo da avenida um território de escuta. O vice-campeonato e o acesso ao Grupo Especial confirmam que a obra de Arlindinho, Lucas Donato, Aquiles da Vila, Fabiano Sorriso, Marcos Vinícius, Biel e Salgado une festa e denúncia: celebra os povos originários e exige respeito à terra, à memória e aos direitos.