Samba-Enredo 2025 - Quem Tem Medo de Xica Manicongo?

Resistência e orgulho em “Samba-Enredo 2025 - Quem Tem Medo de Xica Manicongo?”

"Samba-Enredo 2025 - Quem Tem Medo de Xica Manicongo?", do G.R.E.S Paraíso do Tuiuti, traz à tona a ancestralidade e a resistência das pessoas trans e travestis no Brasil, tendo Xica Manicongo como símbolo central de coragem. A música resgata a história de Xica, reconhecida como a primeira travesti não indígena documentada no país, e conecta sua trajetória à luta atual contra a violência sofrida pela população LGBTQIAPN+. Logo no início, a letra denuncia a gravidade dessa realidade ao citar o dado de assassinatos a cada 34 horas. Ao afirmar “Todas somos Xica / Xica vive na fumaça”, o samba sugere que o legado de Xica inspira novas gerações, reforçando a ideia de "transcestralidade" — a ancestralidade trans que atravessa o tempo e fortalece a comunidade.

A canção valoriza a cultura LGBTQIAPN+ ao usar expressões do pajubá, como “Ê pajubá / Acuendar sem xoxar pra fazer fuzuê”, celebrando a linguagem própria do grupo e reivindicando respeito. O verso “Só não venha me julgar / Pela boca que eu beijo / Pela cor da minha blusa / E a fé que eu professar” confronta o preconceito, defendendo o direito à identidade, ao desejo e à fé. O samba também faz referência à resistência religiosa e cultural africana, citando a quimbanda, o nganga, Exu e Pombagira, figuras que simbolizam proteção e transgressão. Ao se autodefinir como “a bicha, invertida e vulgar / A voz que calou o cis tema / A bruxa do conservador”, a música subverte insultos e estigmas, transformando-os em orgulho coletivo. Ao repetir “Eu, travesti / Estou no cruzo da esquina / Pra enfrentar a chacina”, o samba evidencia a vulnerabilidade e a coragem das pessoas trans no Brasil, exigindo respeito, visibilidade e humanidade, e ecoando a luta de Xica Manicongo.