Samba-Enredo 2024 - O Esperançar do Poeta

Afirmação e resistência em “Samba-Enredo 2024 - O Esperançar do Poeta”

"Samba-Enredo 2024 - O Esperançar do Poeta", do G.R.E.S União de Maricá, destaca-se por transformar expressões historicamente usadas para marginalizar, como “Neguinho, vadio, vagabundo”, em um ponto de partida para a afirmação de identidade, talento e superação. O verso “Todos que me excomungaram / Tem que aplaudir de pé” mostra a reviravolta: quem antes era alvo de preconceito agora é reconhecido e celebrado por sua arte e resistência. Essa inversão se conecta diretamente à trajetória de Guaracy Sant’Anna, o Guará, homenageado no enredo, que usou a música para dar voz às periferias e denunciar injustiças sociais.

A letra valoriza o cotidiano das comunidades, como em “No meu barraco, luxo é ter educação / Saúde, boa prosa, um prato de feijão”, exaltando conquistas básicas como verdadeiros tesouros e reforçando o orgulho das raízes populares. O refrão “Maricá é meu país! Meu país é Maricá!” brinca com um bordão local, mas também expressa pertencimento e autonomia, celebrando a cidade como símbolo de resistência e esperança. Ao se autodenominar “mais um Guará desse Brasil”, o compositor se coloca na linhagem dos poetas que transformam a realidade pela arte, destacando o papel social do samba e dos compositores como “operários da canção”. A menção à “Lua de Ogum” traz a proteção das religiões de matriz africana, conectando a luta diária à ancestralidade. Assim, a música celebra Guará e todos que, com “caneta e papel”, constroem sonhos e dignidade para o povo, fazendo do samba um instrumento de esperança e transformação.