Nítido e Obscuro

Contrastes do amor em "Nítido e Obscuro" de Guinga

"Nítido e Obscuro", de Guinga com letra de Aldir Blanc, explora as contradições presentes nos relacionamentos, destacando como o desejo e o afeto podem ser claros e, ao mesmo tempo, indecifráveis. A letra brinca com essa dualidade, como no trecho “Porque em você / O que me prende vive livre / Como tudo que há no espelho / Existe mas não tive”, mostrando que o amor é sentido intensamente, mas nunca é totalmente possuído. Essa tensão entre posse e liberdade, realidade e ilusão, é central para a canção.

A música utiliza imagens marcantes para expressar a mistura de delicadeza e mistério do outro, como em “A porcelana e o alabastro na pele que eu vou beijar” e “O escuro atrás do astro na boca que me afogar”. Aldir Blanc, conhecido por suas letras ambíguas, combina elementos de pureza (porcelana, alabastro) com outros de profundidade e perigo (escuro, afogar), sugerindo que o amor é feito de opostos. Referências como “bambual de ouro no dorso do tigre” e “farol de Alexandria varando a solidão” reforçam a ideia de algo precioso, raro e, ao mesmo tempo, ameaçador ou inalcançável.

O tom irônico aparece em versos como “O amor vareia: o primeiro virar areia / O segundo sacaneia / Mas o próximo é ilusão - que bão!”, tratando o amor com humor e resignação diante de sua imprevisibilidade. A frase final “É sempre nítido e obscuro o que se quer!” resume o tema: nos relacionamentos, o desejo nunca é totalmente claro, e é essa mistura de certeza e dúvida que alimenta a paixão. A música valoriza a complexidade dos sentimentos humanos, reconhecendo suas nuances sem tentar simplificá-los.