Todo fim de tarde chove

Chuva e crise existencial em "Todo fim de tarde chove"

Em "Todo fim de tarde chove", Guri MC utiliza a chuva como uma metáfora constante para sentimentos não resolvidos e a repetição de ciclos emocionais, especialmente ligados à frustração e à busca por sentido. No verso “meus olhos como São Paulo em Janeiro: Todo fim de tarde chove”, o artista conecta sua experiência pessoal ao cotidiano da cidade, mostrando que, assim como a chuva é inevitável, sentimentos de vazio e tristeza também retornam com frequência.

A música também traz um tom irônico ao abordar desejos materiais, como em “comprar um Corvete, completo, cor verde, conversível e só usar uma vez”, questionando o valor real dessas conquistas e expondo a superficialidade do consumo como tentativa de preencher lacunas emocionais. Guri MC explora temas de identidade e espiritualidade, evidentes em “Isso é sobre espírito / O meu real / Pediu divórcio pro meu eu lírico”, sugerindo um distanciamento entre sua essência e sua persona artística, o que reforça a ideia de crise existencial. A crítica social aparece ao mencionar “as amigas delas parecem sinhás”, evidenciando desconforto diante de julgamentos e privilégios de classe. No trecho “Nem tudo é culpa do capeta a vida é uma dúvida maior do que / A Capitú ter traído ou não aquele cara lá”, o artista usa referências culturais para mostrar que a vida é cheia de incertezas e que não se deve simplificar traumas ou buscar culpados fáceis. O refrão repetido ao final reforça que, apesar das tentativas de fuga, a "chuva interna" sempre retorna, simbolizando a persistência dos dilemas pessoais.