Mal (part. Jão)

“Mal (part. Jão)” amor que dói e o desejo de paz duradoura

“Mal (part. Jão)”, de Gustavo Mioto com Jão, encara um padrão viciado: o afeto se alimenta do conflito. O verso “Você me ama mais quando eu te trato mal” soa como constatação, não como pose. A letra descreve o vai e volta — “Vou e volto / Prendo e solto” — em que ele admite machucar “só pra manter tudo igual”, embora queira “te amar tranquilo”. “Tratar mal” aparece como atitude ampla: da grosseria explícita à frieza calculada, sumiços e ciúmes — pequenas agressões que mantêm o outro preso ao jogo. Já “Eu odeio quem te fez acreditar que tem que doer pra ser real” abre duas chaves: alguém anterior consolidou a equação dor=amor, ou ambos reforçam o drama porque a briga valida a intensidade da relação.

Quando ele imagina um amor em paz — “Te deitar no meu peito, te beijar sem raiva” — surge o dilema: quebrar o ciclo sem perder a pessoa. “Remar num temporal” resume o desgaste de insistir num modelo que se conhece o fim. Essa tensão conversa com a estética da faixa: a parceria entre pop e sertanejo amplia a sofrência com acabamento moderno, conciliando opostos. O contexto de quase dois anos buscando uma sonoridade comum se reflete no enredo — procurar um meio-termo entre intensidade e calma — e ajuda a explicar por que a colaboração, lançada em 10 de setembro de 2024 e bem recebida, soa convincente ao encarar um amor que parece mais forte quando dói, embora o desejo seja aprender a não ferir.