Early Winter

“Early Winter”: quando o amor esfria antes da hora

Em “Early Winter”, Gwen Stefani usa o “inverno precoce” para mostrar um amor que perde o calor antes do tempo. O pedido “Oh, I need you to turn me over” (Ah, eu preciso que você me vire) tem duplo sentido: romper a inércia emocional e, ao mesmo tempo, ecoar a estética dos anos 80 — como virar o lado de um vinil, referência coerente com o desejo de soar como Time After Time e Eyes Without a Face. As imagens de frio — “The sun’s getting cold, it’s snowin” (O sol está esfriando, está nevando) e “I can’t remember sunlight” (Não consigo me lembrar da luz do sol) — reforçam a distância afetiva, enquanto o refrão “Looks like an early winter for us” (Parece um inverno precoce para nós) sela a constatação de que o fim chegou cedo. A desilusão é direta em “You lied to me all these years” (Você mentiu para mim todos esses anos) e no embate de “Why do you act so stupid? You know that I’m always right” (Por que você age de forma tão estúpida? Você sabe que eu sempre estou certa). O cansaço dos ciclos surge em “Starting over and over and over again” (Começando de novo, de novo e de novo).

As metáforas cósmicas e cartográficas — “It’s said the map of the world is on you / The moon gravitates around you / The seasons escape you” (Dizem que o mapa do mundo está em você / A lua gravita ao seu redor / As estações fogem de você) — indicam que o outro virou centro de gravidade, alheio aos ciclos afetivos. “Mapa do mundo” pode ser marcas de uma vida errante ou a geografia emocional dela desenhada em torno dele; em ambos, há distanciamento. A coautoria de Tim Rice‑Oxley (Keane) e a produção com clima new wave dos 80s dão à balada piano melancólico e textura fria, alinhados às imagens de neve. No clipe de Sophie Muller, palácios e estações de trem em Milão, Praga e Budapeste traduzem em cenas de espera e partida o movimento de “começar de novo” que atravessa a música.