A Cor do Teu Batom

Memória e desejo em "A Cor do Teu Batom" de Herman José

"A Cor do Teu Batom", de Herman José, transforma o batom em um símbolo marcante de lembrança e desejo. Na música, o batom não é apenas um detalhe estético, mas representa a intensidade de um encontro amoroso que permanece vivo na memória. A letra explora essa nostalgia de forma sensorial, evocando visão, paladar e tato em versos como “deixou na roupa o teu sabor” e “deixou na pele o teu calor”. Expressões como “foi água, mel, foi cor de carmim” e “foi um bombom, Curaçao, Licor” reforçam a ideia de que o batom carrega a doçura e a embriaguez de um momento especial, misturando sabores e cores para criar uma lembrança quase palpável.

O contexto do Festival RTP da Canção de 1983, onde a música foi apresentada, acrescenta uma camada de saudade e impossibilidade. Herman José, apesar de ser o intérprete, não poderia representar Portugal na Eurovisão devido à sua nacionalidade, o que dialoga com versos como “Só eu sei, ainda é bom lembrar / Só eu sei, ainda é bom sonhar / Já nem sei, será bom acordar”. Esses trechos sugerem que o passado é mais doce do que o presente, e que o sonho pode ser mais confortável do que a realidade. Assim, a canção utiliza o batom como metáfora para um amor que marcou profundamente, mas que talvez só exista plenamente nas lembranças e nos sonhos.