Allez Là

Da queda à ação em “Allez Là”, de Hoshi, no limite

Apesar de soar como conselho de fora, o refrão de “Allez Là” encena um diálogo interno: a mesma voz que afunda é a que puxa de volta. Hoshi transforma a ansiedade em sensação física e rotina, com imagens como “il est quinze heures du matin” / “je me recouche dès que j’me réveille” (são 15 horas da manhã / volto a deitar assim que acordo), escancarando o descompasso do corpo. O medo paralisa o horizonte em “J’ai peur de l’avenir, j’ai peur de rêver” (tenho medo do futuro, tenho medo de sonhar). O desejo de se isolar surge em “Mets‑moi sous vide” (me embala a vácuo), enquanto a mente não silencia: “Mon propre silence fait du bruit” (meu próprio silêncio faz barulho). Sem recorrer a fatos externos, a letra mira sentimentos universais de dúvida e exaustão, alinhados ao espírito de Étoile flippante: autodescoberta em meio ao caos, reconhecendo a queda antes de pensar na subida.

O refrão vira mantra de ação. “Allez là” (vamos lá) chama para o movimento e dá o puxão de orelha carinhoso: “te laisse pas crever comme ça” (não se deixe morrer assim). “Donne du travail au karma” (dê trabalho ao carma) pede iniciativa para que o ciclo devolva algo. “Garde la main sur le cœur même à bout de bras” (mantenha a mão no coração mesmo no limite) combina sinceridade e resistência, e “comment te relever si tu tombes pas?” (como se levantar se você não cai?) legitima o tropeço. O verso‑chave “Fais de tes failles un combat” (faça das suas falhas uma luta) amarra o tema: transformar vulnerabilidade em prática. “Essuie tous tes pleurs sinon tu te noies” (enxugue todas as suas lágrimas senão você se afoga) fecha a virada do quarto escuro para a atitude. Não há milagre: há persistência, cair, levantar e seguir, com a própria voz como guia.