Perfidia

Solidão e saudade em "Perfidia" de Ibrahim Ferrer

O título "Perfidia" já indica o tema central da música: a dor causada pela traição amorosa e o sentimento de abandono. Na interpretação de Ibrahim Ferrer, essa sensação de desamparo se torna ainda mais intensa, graças à sua voz emotiva, que transmite a solidão do personagem. Isso fica claro em versos como “Nadie comprende lo que sufro yo” (Ninguém entende o que eu sofro) e “Todos me miran y se van” (Todos me olham e vão embora), mostrando que, mesmo cercado de pessoas, o eu lírico se sente isolado e incompreendido. Composta em 1939 por Alberto Domínguez, a canção aborda um sofrimento universal, que atravessa gerações e culturas.

A letra narra a busca incessante pela pessoa amada, marcada pela saudade e pela impossibilidade de reencontro: “Te he buscado por do'quiera que yo voy / Y no te puedo hallar” (Procurei por você em todo lugar que vou / E não consigo te encontrar). O mar, chamado de “espejo de mi corazón” (espelho do meu coração), simboliza a imensidão dos sentimentos e reflete a dor interna do personagem, sendo testemunha silenciosa das lágrimas provocadas pela “perfidia de tu amor” (perfidia do seu amor). O desespero chega ao ponto de buscar respostas até mesmo em Deus: “Si puedes tú con Dios hablar / Pregúntale si yo alguna vez / Te he dejado de adorar” (Se você pode falar com Deus / Pergunte a Ele se algum dia / Eu deixei de te adorar), mostrando a entrega total do amante traído.

A repetição de versos sobre a distância e a incerteza do paradeiro da pessoa amada, como “Quien sabe por dónde andarás / Quien sabe qué aventura tendrás / Que lejos estas de mí” (Quem sabe por onde você anda / Quem sabe que aventura você terá / Como você está longe de mim), reforça o sentimento de perda irreparável. A interpretação de Ferrer, dentro do contexto do bolero, potencializa a melancolia e a introspecção, tornando "Perfidia" um retrato sincero da dor de quem ama e não é correspondido, marcado pela solidão e pela lembrança amarga da traição.