Pobre paulista

Conflitos de identidade e exclusão em “Pobre paulista” do Ira!

A música “Pobre paulista”, da banda Ira!, destaca-se pelo tom de exclusão e ressentimento, especialmente nos versos “Não quero ver mais essa gente feia / Não quero ver mais os ignorantes / Eu quero ver gente da minha terra / Eu quero ver gente do meu sangue”. Esses trechos geraram polêmica e acusações de xenofobia, pois refletem uma rejeição ao "outro" e uma busca por identidade local, mas acabam expressando preconceito contra migrantes, principalmente nordestinos, em São Paulo. O próprio Edgard Scandurra, autor da letra, admitiu que escreveu a música na adolescência, sem perceber o impacto negativo dessas palavras. Por respeito aos que se sentiram ofendidos, a banda decidiu não tocar mais a canção em seus shows.

Além da polêmica, a letra retrata o desconforto e a crise de identidade do jovem paulista nos anos 1980. Frases como “Todos os não se agitam / Toda adolescência acata / E a minha mente gira / E toda ilusão se acaba” mostram uma juventude frustrada, rebelde e desiludida com a realidade da cidade. O sentimento de indiferença e ódio, descrito como “um monstro” que sai de dentro, reforça essa angústia. O refrão “Pobre São Paulo, pobre paulista” evidencia uma metrópole marcada por conflitos internos, desigualdade e falta de pertencimento. Já o trecho “Eu sei que vivo em louca utopia / Mas tudo vai cair na realidade” revela a percepção de que sonhos e ideais acabam sendo esmagados pela dureza da vida urbana. Assim, a música mistura crítica social, angústia juvenil e um viés excludente que a própria banda revisitou com o tempo.