Gone (Going)

Em “Gone (Going)”, Jack Johnson critica o consumismo

O refrão “Gone going” (indo embora) funciona como veredito: não somem só os bens, some também a capacidade de se importar — “Gone give a damn” (não dá a mínima). Ao chamar carros, celulares e joias de “coisas removíveis”, Jack Johnson diz que eles não aderem à identidade e até afastam do que importa. A letra contrapõe consumo e essência: “Look at all those fancy clothes/these could keep us warm just like those” (olhe todas essas roupas chiques/estas aqui podem nos manter aquecidos como aquelas) relativiza o luxo, enquanto o foco deveria estar na mente que brilha e na “alma” que não deve virar produto — “straight from the mold and ready to be sold” (direto do molde e pronto para ser vendido). A imagem de alegria e criatividade sufocadas aparece em “people, all awkward with their things” (pessoas, todas sem jeito com suas coisas). Há ainda um alerta sobre o uso do tempo: quando as coisas preocupam mais do que o próprio tempo, perde-se presença e cuidado com o essencial.

Há uma narrativa dirigida a um “você” que vive de acordos e troca o que importa por aparência: “You try to be appealing but you lose your appeal” (você tenta ser atraente, mas perde o encanto) e “You willing to sell anything” (você está disposto a vender qualquer coisa). As “pontes queimadas”, sobre as quais os sapatos já não servem, sintetizam as consequências: reputação arruinada, relações cortadas, caminhos fechados. “Leave your footprints, we’ll shame them with our words” (deixe suas pegadas, vamos envergonhá-las com nossas palavras) afirma que o legado será julgado pelo conteúdo, não pelo brilho. Esse recado ganha corpo na parceria com o Black Eyed Peas em “Gone Going”, em que will.i.am narra Johnny, artista que, ao buscar fama e riqueza, vende a própria verdade e se desconecta das raízes. O tom é calmo, levemente melancólico e irônico: quando o valor está nas coisas, tudo vai embora — inclusive o canto.