Amsterdam

A vida crua dos marinheiros em “Amsterdam” de Jacques Brel

Em “Amsterdam”, Jacques Brel transforma a cidade portuária em um símbolo universal da vida intensa e efêmera dos marinheiros. A escolha por Amsterdam, em vez de Zeebrugge, foi motivada tanto pela sonoridade quanto pelo impacto cultural do nome, reforçando o cenário de excessos e melancolia. Brel retrata os marinheiros de forma direta, sem idealizações, mostrando-os “pleins de bière et de drames” (cheios de cerveja e dramas), entregues à comida, bebida, sexo e à tristeza. A letra alterna imagens de vitalidade e decadência, como nos versos “dorment comme des oriflammes” (dormem como estandartes), sugerindo orgulho e abandono ao mesmo tempo.

O realismo da narrativa aparece na descrição da rotina dos marinheiros em terra: eles comem de forma voraz, dançam de maneira desajeitada e barulhenta, e buscam consolo nas prostitutas, a quem brindam “à la santé des putains d'Amsterdam” (à saúde das prostitutas de Amsterdam). Metáforas como “se mouchent dans les étoiles” (assoam o nariz nas estrelas) e “ils pissent comme je pleure sur les femmes infidèles” (eles urinam como eu choro sobre as mulheres infiéis) reforçam o contraste entre o sublime e o vulgar, entre sonho e desilusão. Inspirada na melodia da canção folclórica “Greensleeves”, a música ganha um tom melancólico e crescente, acompanhando a intensidade emocional da letra. No fim, “Amsterdam” é um retrato honesto e impactante da humanidade, marcada por desejos, excessos e a busca por sentido em meio à rotina portuária.