Siga Seu Rumo

“Siga Seu Rumo”: ruptura e autonomia feminina no dueto

“Siga Seu Rumo” subverte a lógica comum dos duetos românticos: quem determina o fim é a mulher, que impõe limites e encerra a relação. O bate‑volta marcado por “M” e “H” cria um confronto direto, em que a frase decisiva — “Porque hoje sou eu quem não quer mais você” — desloca o poder para ela e ecoa a ênfase na autonomia feminina presente na recepção da canção nos anos 1970. Esse protagonismo, frequentemente apontado em textos sobre a dupla, ajudou a consolidar Jane e Herondy como referência do romantismo popular, ainda que a faixa não tenha alcançado o impacto de “Não Se Vá”.

A narrativa é objetiva: ele some “em busca de sensações”, descobre que tudo era “fantasia” e volta; ela já se refez e manda seguir: “Fora… e siga seu rumo”. O refrão delimita fronteiras concretas — “meu rosto, meu nome, esta casa / meus olhos, meu corpo, meu beijo” — como um inventário do que ele não acessa mais, transformando lembrança e corpo em território protegido. Há ainda a alfinetada que ressignifica a dor como força: “Esqueça de mim que afinal pra esquecer você tem experiência”, lembrando o abandono anterior. O título funciona como ordem e encerramento de ciclo: cada um no seu caminho, sem retorno. No embate final — “Adeus” versus “Ajude-me/Pense em mim” — a estrutura dialogada guia o desfecho: ele insiste, ela mantém o “não”, e a música se fecha como declaração de independência afetiva.