Berceuse Criolle

Rituais familiares e ancestralidade em “Berceuse Criolle”

“Berceuse Criolle”, de Jards Macalé, destaca a importância dos rituais familiares e da transmissão de saberes ancestrais na construção da identidade. O título já traz pistas sobre o tema: “berceuse” significa canção de ninar, enquanto “criolle” faz referência à herança cultural afro-brasileira, sugerindo um acalanto enraizado em tradições populares e mestiças. A letra retrata cenas do cotidiano de uma infância protegida, como quando o pai, ao amanhecer, apresenta ao filho o “aro do Sol”, um gesto simbólico que representa iniciação e conexão com as forças da natureza.

Durante a noite, a mãe assume o papel de consolo e ensinamento, levando a criança ao terreiro — espaço central nas casas de matriz africana, onde ocorrem rituais e celebrações. O ato de “deitar a saia no chão” e “ficar nuinha em pelo” pode ser entendido como um retorno à pureza e à origem, reforçando a intimidade e a confiança entre mãe e filho. Ao mostrar a Lua e “os sete estrelo”, a mãe introduz a criança ao universo simbólico e espiritual, transmitindo não só conforto, mas também um senso de pertencimento e continuidade cultural. A atmosfera acolhedora e simples da canção reforça como os gestos cotidianos carregam a força das tradições e dos laços familiares.