Positivismo

Crítica social e afetiva em "Positivismo" de Jards Macalé

Em "Positivismo", Jards Macalé faz uma crítica irônica ao lema positivista, invertendo seus valores e expondo suas contradições. Quando afirma “a verdade, meu amor, mora num poço”, a música sugere que a verdade é algo escondido, difícil de alcançar ou até mesmo desconfortável. As referências a figuras como Pilatos e o autor da guilhotina reforçam a ideia de que, mesmo com poder, ninguém está livre das consequências de seus atos. Essas menções históricas e bíblicas servem para questionar certezas absolutas, inclusive as leis filosóficas.

A canção também critica a ausência do amor no lema da bandeira do Brasil, refletindo a campanha de Jards Macalé para incluir o termo. Ao cantar “O amor vem por princípio, a ordem por base, o progresso é que deve vir por fim”, Macalé resgata o lema original de Auguste Comte e ironiza sua aplicação, especialmente ao dizer que a destinatária “desprezaste esta lei de Augusto Comte e foste ser feliz longe de mim”. O amor aparece como princípio fundamental, mas negligenciado tanto nas relações pessoais quanto na sociedade. A ironia se intensifica nos versos que misturam economia e sentimento, como “No câmbio incerto da vida, a libra sempre é o coração” e “teu juro exorbitante / transformar mais outra libra / em dívida flutuante”, brincando com a ideia de que sentimentos podem ser negociados como moedas, mas acabam gerando dívidas emocionais.

No final, a música trata o término do relacionamento como um antídoto para o "veneno" da outra pessoa, preferindo o afastamento à convivência tóxica. "Positivismo" usa referências filosóficas, históricas e econômicas para questionar valores sociais e afetivos, sempre com um olhar crítico e bem-humorado sobre a distância entre ideais e realidade.