Riverboat Queen

Entre risco e liberdade em “Riverboat Queen”, de JAYLER

Apesar de soar como canção de paixão, “Riverboat Queen” se comporta como rito de iniciação. A “river girl queen” (garota rainha do rio) é amante e correnteza ao mesmo tempo, a força que seduz para o perigo. Em “She showed me the final life” (Ela me mostrou a vida derradeira), “final” carrega o duplo sentido de plenitude e de limite, em sintonia com a intenção declarada pela JAYLER de capturar “perigo e descontrole” na gravação. A estética crua, com riffs bluesados e atitude que lembram Led Zeppelin e The Who, reforça o impulso de se lançar no fluxo: “the river’s rising” (o rio está subindo), “I’m caught beneath the undertow” (estou preso sob o repuxo) e “Oh God, won’t you set me free?” (Ó Deus, não vai me libertar?) soam como entrega à correnteza vista como libertação, não segurança.

A letra estrutura a escolha entre estabilidade e liberdade. Em “If I didn’t climb a pole… and I choose to swim” (Se eu não subir num poste... e escolho nadar), subir é buscar abrigo; nadar é assumir o risco. O gesto aparece com franqueza em “rock the boat / kiss the balance we’ll surely lose” (balançar o barco / dar adeus ao equilíbrio que certamente perderemos) e na confissão “I’ll have no stability / for when I sing my blues” (não terei estabilidade / quando eu cantar meus blues). A guia é a própria “river girl queen”, que pode ser uma pessoa, a música/estrada personificada ou a cena/cidade que atrai, convertendo desejo em realidade: “She showed me sweet life / That I could only dream of” (ela me mostrou a vida doce / com a qual eu só podia sonhar). Gravada no Vada Studios, com produção de George Perks, a banda traduz em som essa tensão entre risco e sossego — e escolhe navegar onde o balanço se perde.