exibições de letras 42.624

Tio Anastácio

Jayme Caetano Braun

LetraSignificado

    Entre a ponte e o Lajeado
    Na venda do Bonifácio
    Conheci o tio Anastácio
    Negro velho já tordilho
    Diz que muy quebra em potrilho
    Hoje pobre, despilchado
    De tirador remendado
    Num petiço douradilho

    Quem visse o tio anastácio
    Num bolincho de campanha
    Golpeando um trago de canha
    Oitavado no balcão
    Tinha bem logo a impressão
    Que aquele mulato sério
    Era o Rio Grande gaudério
    Fugindo da evolução!

    A tropilha dos invernos
    Tinha lhe dado uma estafa
    E aquela meia garrafa
    Dentro do cano da bota
    Contava a história remota
    Do negro velho curtido
    Que os anos tinham vencido
    Sem diminuir na derrota

    Mulato criado guacho
    Nos tempos da escravatura
    Aquela estranha figura
    Na vida passara tudo
    Ginetaço macanudo
    Já desde o primeiro berro
    Saia trançando ferro
    No potro mais colmilhudo!

    Carneava uma res, num upa
    Com toda arte e perícia!
    Reservado e sem malícia
    Negro de toda a confiança
    Bem quisto na vizinhança
    Dava gosto num rodeio
    De pingo alçado no freio
    Pealando de toda trança

    Tinha cruzado as fronteiras
    Da argentina e do Uruguai
    Andara no Paraguai
    Peleando valentemente
    E voltara, humildemente
    Como tantos índios tacos
    Que foram vingar nos chacos
    A honra da nossa gente!

    Caboclo de qualidade
    Que não corpeava uma ajuda
    Na encrenca mais peleaguda
    Sempre conservava o tino
    Garrucha boca de sino
    Carregada com amor
    E um facão mais cortador
    Do que aspa de boi brasino!

    Porém depois que os janeiros
    Foram ficando a distância
    Andou, de estância em estância
    E foi vivendo de changa
    Repontando bois de canga
    Castrando com muita sorte
    E em tempos de seca forte
    Arrastando água da sanga

    Ficou sendo um desses índios
    Que se encontra nos galpões
    E ao derredor dos fogões
    Fala aos moços, com paciência
    De que aprendeu na existência
    Ao longo dos corredores
    Alegria, dissabores
    Curtido pela experiência!

    Tio Anastácio pr'aqui
    Tio anastácio pra lá
    Mandado mesmo que piá
    Pôr aquela redondeza
    Nos remendos da pobreza
    Entrava e passava inverno
    Como um tronco só no cerno
    Pelegueando a natureza!

    Por isso é que nos bolinchos
    Só se alegrava bebendo
    Como se cada remendo
    Da velha roupa gaudéria
    Fosse uma sangria séria
    Por onde o sangue do pago
    Se esvaísse, trago a trago
    Por ver tamanha miséria!

    E até parece mentira
    Negro velho de valor!
    Morreste no corredor
    Como matungo sem dono
    Não tendo neste abandono
    Ao menos um companheiro
    Que te estendesse o baixeiro
    Para o derradeiro sono!

    E agora que estas vivendo
    Na estância grande do céu
    Engraxando algum sovéu
    Pra o patrão velho buenacho
    Não te esquece aqui de baixo
    Onde alolargo ainda existe
    Muito xiru velho triste
    Como tu, criado guacho!
    Como tu, tio Anastácio

    Composição: Jayme Caetano Braun. Essa informação está errada? Nos avise.
    Enviada por Diógenes. Revisões por 5 pessoas. Viu algum erro? Envie uma revisão.

    Comentários

    Envie dúvidas, explicações e curiosidades sobre a letra

    0 / 500

    Faça parte  dessa comunidade 

    Tire dúvidas sobre idiomas, interaja com outros fãs de Jayme Caetano Braun e vá além da letra da música.

    Conheça o Letras Academy

    Enviar para a central de dúvidas?

    Dúvidas enviadas podem receber respostas de professores e alunos da plataforma.

    Fixe este conteúdo com a aula:

    0 / 500

    Opções de seleção