Teacher

“Teacher” e o falso guia que transforma vazio em festa

Em “Teacher”, o suposto guia oferece libertação, mas quem ganha é ele. A letra desmonta a promessa de diversão imediata frente ao vazio de fundo. Ao amanhecer, surge alguém que se apresenta como professor e oferece lições baseadas em clichês; ele mesmo se assume um clichê, com frases como “No man’s an island” (nenhum homem é uma ilha) e “The nest is for nothing when the bird has flown” (o ninho não serve de nada quando o pássaro já voou). O conselho é sair, socializar, não se isolar. O narrador compra a ideia — “threw my world into the sea” (joguei meu mundo no mar) —, mas quem encontra prazer é o guru: “with me went the teacher who found fun instead of me” (junto comigo foi o professor, que encontrou diversão no meu lugar). A imagem “sun‑tanned, drink in hand, lying there in bed” (bronzeado, bebida na mão, deitado na cama) expõe um hedonismo preguiçoso. E o narrador admite a frustração: “I try to socialize, but I can’t seem to find what I was looking for” (eu tento socializar, mas não consigo encontrar o que eu estava procurando). No fim, o “professor” agradece pelo ingresso e vai embora, sinal de oportunismo.

Lida literalmente, é um encontro com um falso mentor; simbolicamente, o “professor” pode ser a voz interna que empurra a diversão como fuga — um traço da virada para os anos 1970, quando gurus e receitas rápidas proliferavam. O eixo é a autodescoberta: socializar ajuda, mas não substitui propósito. Musicalmente, a fusão de rock e folk, com a flauta de Ian Anderson e riffs marcantes, cria brilho na superfície que contrasta com a desilusão do texto. Curioso: a faixa nasceu como lado B de The Witch’s Promise e foi regravada para a edição americana de Benefit, já com a pegada típica do Jethro Tull de soar leve enquanto faz pensar sobre o que realmente preenche a vida.