Lígia

O conflito entre desejo e negação em “Lígia” de João Gilberto

Em “Lígia”, João Gilberto explora o conflito entre o desejo e a negação de sentimentos. A letra repete frases como “nunca sonhei com você”, “não gosto de samba” e “não vou a Ipanema”, criando uma fachada de indiferença. No entanto, essa insistência revela justamente o oposto: o narrador tenta esconder uma paixão intensa, provavelmente por medo de se envolver e sofrer. O contexto da canção reforça essa leitura, já que ela foi dedicada a Lygia Marina de Moraes, e a apatia aparente dos versos funciona como uma defesa emocional diante de um amor que o narrador teme perder. Isso fica claro em trechos como “Fatalmente eu iria sofrer tanta dor / Pra no fim te perder”, que antecipam o sofrimento de um possível fim do relacionamento.

A interpretação minimalista de João Gilberto intensifica o tom intimista e melancólico da música, destacando o conflito interno do narrador. As referências a lugares como Ipanema e Leblon, além de atividades românticas como andar de mãos dadas ou tomar um chopp gelado, são mencionadas como se fossem rejeitadas, mas, na verdade, mostram o quanto esses momentos ocupam o pensamento do narrador. Assim, a negação constante se transforma em uma confissão indireta de desejo e vulnerabilidade, tornando “Lígia” uma canção sobre o medo de amar e a dor antecipada da perda.