Hellhound On My Trail

A perseguição e o medo em “Hellhound On My Trail” de Robert Johnson

Em “Hellhound On My Trail”, Robert Johnson utiliza a imagem do “cão do inferno” para expressar muito mais do que uma perseguição sobrenatural. O “hellhound” funciona como metáfora para os demônios internos do próprio Johnson, como culpa, medo e ansiedade, mas também reflete o terror real vivido por homens negros no sul dos Estados Unidos, especialmente o medo constante de linchamento e perseguição racial. Pesquisadores, como o professor Karlos K. Hill, destacam que o termo “hellhound” remete aos cães de caça usados para perseguir escravizados e fugitivos, tornando a canção um retrato sombrio da opressão e do estado permanente de alerta.

A atmosfera pesada da música é reforçada pela afinação aberta em mi menor e pelo uso do slide na guitarra, criando um clima de lamento e inquietação que acompanha versos como “I gotta keep movin, blues fallin down like hail” (Tenho que continuar me movendo, a tristeza cai como granizo). O sentimento de não pertencimento e a necessidade de estar sempre fugindo são centrais. Elementos como o “hot foot powder”, um pó ligado a práticas de vodu para afastar pessoas, reforçam a sensação de maldição e de que Johnson não encontra paz. Até mesmo datas festivas, como o Natal, aparecem na letra para contrastar com a solidão do narrador, que só deseja a companhia de sua “sweet woman” para aliviar o peso da perseguição. Envolta na lenda do pacto com o diabo, a canção se destaca como expressão intensa da angústia existencial e das pressões sociais e espirituais que cercavam Johnson.