Negros Blues

Celebração da diversidade e esperança em “Negros Blues”

“Negros Blues”, de Jorge Mautner, aborda a história da colonização e da escravidão no Brasil de forma surpreendente, sem ressentimento ou desejo de vingança. O artista deixa claro, no trecho “Não há nenhum ressentimento / Nem pingo de um outro sentimento / Nas palavras que eu digo”, que seu objetivo é refletir sobre o passado e valorizar a riqueza cultural surgida do encontro entre diferentes povos. Mautner utiliza imagens como as “brancas caravelas” e os “navios negreiros” para situar o ouvinte no contexto histórico, ao mesmo tempo em que destaca a criatividade e resistência dos africanos escravizados, exemplificada na invenção da palavra “camundongo” nos porões dos navios.

O sincretismo religioso e cultural é central na canção, com referências a Iansã, Iemanjá, a Rainha de Sabá e à estrela da umbanda, que “é igual a de Israel”. Isso reforça a ideia de que a identidade brasileira é resultado de múltiplas influências, celebradas nos versos “Pois somos todos lá da Torre de Babel” e nos cumprimentos de diferentes tradições: “shalom”, “salaam aleikum”, “saravá”, “kolofé”. Ao citar artistas negros como Gilberto Gil, Tim Maia, Milton Nascimento, Stevie Wonder e Bob Marley, Mautner reconhece a enorme contribuição da cultura negra para a música e a identidade nacional, conectando ritmos como blues, samba e maracatu. A música também traz uma reflexão existencial, com figuras como o “viajante” e o “profeta”, e amplia o convite à tolerância ao citar Jesus e suas mensagens de amor. Assim, “Negros Blues” transforma uma narrativa de dor em um manifesto de celebração, respeito e esperança, mostrando como a cultura brasileira floresceu a partir da mistura de diferentes povos e tradições.