Sem Ninguém

Solidão e saudade em “Sem Ninguém” de Jorge Neto

“Sem Ninguém”, interpretada por Jorge Neto, expõe de forma direta a vulnerabilidade de quem enfrenta o vazio após perder um grande amor. A repetição do verso “N mesti papia ku bo” (Preciso falar contigo) não só expressa saudade, mas também a urgência de um diálogo que nunca acontece, intensificando o sentimento de isolamento. O uso do crioulo cabo-verdiano reforça a autenticidade da emoção e conecta a experiência pessoal do narrador à realidade de muitos emigrantes, para quem a distância e a saudade são temas constantes.

A letra alterna entre confissão e desabafo, como em “Kabesa baxu, pezadelu sa ta bem” (Cabeça baixa, pesadelo está vindo), mostrando o impacto psicológico do término. O trecho “Mi sem ninguém, nau” (Eu sem ninguém, não) resume o desespero de quem não se imagina sozinho. A metáfora “mundu sta mariadu” (o mundo está tonto) sugere a perda de direção, enquanto “Nhu txiga na nha bera / Sima um mininu mimadu / Ta txora me” (Quando você chega perto de mim / Como uma criança mimada / Chora para mim) revela a fragilidade e a carência afetiva do narrador. O refrão “Sem ninguém / N ta vive a kantu tempu / Sem ninguém / Ka ta vive, nau” reforça a contradição entre sobreviver e realmente viver, destacando a dependência emocional.

Lançada em 1993 pelo grupo Livity, a música ganhou destaque entre cabo-verdianos e emigrantes por ecoar sentimentos universais de perda e solidão, mas também por dialogar com quem vive longe de casa e sente falta de laços profundos. A interpretação sincera de Jorge Neto transforma “Sem Ninguém” em um desabafo sobre a dificuldade de seguir em frente diante da ausência do outro.