Something In The Way

Entre proteção e ruptura em “Something In The Way”

A faixa encena um limbo emocional com imagens de purgatório e de clima, sublinhado pela abertura com vocais de timbre operático e clima orquestral. “Something in the way” (algo no caminho) funciona ao mesmo tempo como obstáculo e proteção, explicando por que o choro insiste mesmo após a decisão de partir: “When I left I thought I would be stronger / But in fact, it took away my energy” (Quando fui embora, achei que ficaria mais forte / Mas, na verdade, isso tirou minha energia), seguida da dificuldade de enxergar “beyond the gates of this purgatory” (além dos portões deste purgatório). As marcas que não somem — “I am so tainted now, I cannot wash you off” (Estou tão marcada agora, não consigo tirar você de mim) — se chocam com o cansaço de quem já secou lágrimas: “mine have been dryin’ for days” (as minhas têm secado há dias). Ainda assim, há resolução: “Time to move on anyway” (Hora de seguir em frente de qualquer jeito) e “Don’t ask me why / It’s done / So long, goodbye / I’m gone” (Não me pergunte por quê / Está feito / Até mais, adeus / Eu me fui). A chuva concentra a dor recorrente — “I can’t stand the rain” (Eu não suporto a chuva) — enquanto “something in the way” (algo no caminho) também pode ser um bloqueio interno que evita recaídas, sustentando a oscilação entre fragilidade e firmeza.

Quando ela contrapõe “Only sun in the summer lasts” (Só o sol no verão dura) e “Even the sun doesn’t seem to last” (Nem o sol parece durar), assume a impermanência: seguir sem “holdin’ on” (se agarrar ao passado) nem “lookin’ back” (olhar para trás). A produção reforça esse arco: uma introdução clássica que remete à formação escolar de Jorja Smith dá lugar à vibração neo-soul com traços de jazz, espelhando a passagem do purgatório ao desapego. Como faixa de abertura do EP Project 11 (2016), apresenta a sinceridade e a resiliência emocional que críticos destacaram ao retratar o coração partido jovem. Embora compartilhe o título com o Nirvana, “Something In The Way” (Algo no caminho) de Jorja Smith nomeia o entrave íntimo a ser superado, e a repetição do refrão transforma essa tomada de consciência em gesto de aceitação.