Cantares de Andarilho

A Jornada Mística de José Afonso em 'Cantares de Andarilho'

A música 'Cantares de Andarilho' de José Afonso é uma rica tapeçaria de imagens e metáforas que evocam uma jornada mística e introspectiva. A letra começa com o eu lírico relatando suas interações com bruxas, figuras que tradicionalmente simbolizam sabedoria oculta e mistérios. Ao oferecer sua inocência e não receber nada em troca, ele sugere uma busca infrutífera por conhecimento ou poder, uma troca desigual que reflete a complexidade das relações humanas e espirituais.

A canção continua com uma série de referências a lugares e plantas, como 'giesta', 'lírio maninho' e 'erva cidreira', que podem ser interpretadas como símbolos de pureza, cura e transformação. Esses elementos naturais são frequentemente associados a rituais e práticas de cura na cultura popular, sugerindo que o andarilho está em uma busca por equilíbrio e entendimento. A menção a locais específicos como 'Bouça da Fresta' e 'Pinhal do Mudo' adiciona uma camada de realismo à jornada, ancorando a experiência mística em um contexto geográfico concreto.

No refrão, o eu lírico se descreve como um 'andarilho das bruxas' e 'moço de S. Cipriano', figuras que evocam tanto a marginalidade quanto a sabedoria esotérica. A referência a São Cipriano, um santo associado a práticas mágicas, reforça a ideia de uma jornada espiritual complexa. A linha 'Já fui morto e inda vivo' sugere uma transformação profunda, possivelmente uma morte simbólica seguida de renascimento. A música termina com uma reflexão sobre a dualidade e a fragmentação do eu, simbolizada pela divisão entre a 'loira' e a 'morena', que pode representar diferentes aspectos da identidade ou experiências de vida.