Tenho Barcos, Tenho Remos

Memórias e desejos em "Tenho Barcos, Tenho Remos" de José Afonso

A letra de "Tenho Barcos, Tenho Remos" revela uma forte conexão autobiográfica de José Afonso com suas experiências no Algarve, especialmente os momentos vividos com amigos na Ria Formosa. O trecho “Tenho barcos, tenho remos / Tenho navios no mar / Tenho amor ali defronte / E não lhe posso chegar” mostra que os barcos e remos representam mais do que simples objetos: são símbolos das aventuras, da liberdade e das possibilidades que marcaram a juventude do artista. O "amor ali defronte" pode ser interpretado tanto como um sentimento real quanto como uma metáfora para sonhos ou ideais que, mesmo próximos, permanecem fora de alcance.

A canção utiliza imagens marítimas e cita diferentes tipos de embarcações – “Já fui mar já fui navio / Já fui chalupa escaler” – para expressar a diversidade das experiências de Afonso e sua busca por transformação e autoconhecimento. O verso “Só me falta ser mulher” indica uma inquietação existencial e o desejo de viver todas as dimensões possíveis da vida, ampliando o significado da música para além do contexto pessoal e marítimo. O tom melancólico e reflexivo reforça a sensação de saudade e de limites impostos pela existência, mesmo quando se tem à disposição todos os "barcos" e "remos" do mundo.