A Morte Saiu À Rua

Violência e resistência em “A Morte Saiu À Rua” de José Afonso

Em “A Morte Saiu À Rua”, José Afonso transforma o assassinato do artista e militante José Dias Coelho em uma narrativa simbólica, sem mencionar nomes diretamente. O verso “A morte saiu à rua num dia assim / Naquele lugar sem nome pra qualquer fim” destaca como a violência se tornou algo comum e anônimo durante a ditadura portuguesa, ampliando o significado da canção para além de um caso específico e tornando-a um retrato universal da dor e da injustiça.

A letra traz imagens marcantes, como “uma gota rubra sobre a calçada cai / E um rio de sangue dum peito aberto sai”, que evidenciam a brutalidade do crime. Elementos como “o vento que dá nas canas do canavial” e “a foice duma ceifeira de Portugal” conectam a tragédia individual à luta coletiva do povo português contra a opressão. O refrão “Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual / Só olho por olho e dente por dente vale” expressa tanto o desejo de justiça quanto a crítica ao ciclo de violência imposto pelo regime. No final, “Na curva da estrada há covas feitas no chão / E em todas florirão rosas duma nação” sugere esperança e resistência, mostrando que, mesmo diante da repressão, a luta por liberdade e justiça pode florescer. O contexto do assassinato de Dias Coelho e a repressão da PIDE dão à música um forte tom político, consolidando-a como símbolo de resistência e memória coletiva.