Volcán

Do aviso ignorado ao silêncio em “Volcán”, de José José

Em “Volcán”, José José desloca a dor do fim para o alerta que ele não quis ouvir: “Ya sé que avisabas hacía tiempo” (Já sei que você avisava fazia tempo). Ao lembrar que ela dizia “Tú no debes quererme, yo soy pecado” (Você não deve me amar, eu sou pecado) e que “días en mi pasado… volverán” (dias do meu passado... voltarão), o narrador percebe que o desastre era previsível, o que acrescenta uma culpa quieta à perda. A relação nasce do desejo e do cuidado cotidiano: ela beijava como “mar en calma” (mar em calma) e também como “golpe de mar” (onda forte), ficava até o amanhecer e virava “mi medicina para olvidar” (meu remédio para esquecer), sinal de que ele usava aquele amor para anestesiar feridas antigas. O verso “A veces era tu cuerpo, a veces era algo más” (Às vezes era seu corpo, às vezes era algo a mais) sugere a dupla camada: atração física intensa e promessa de algo além do corpo, mesmo com os avisos à vista.

As imagens naturais organizam o antes e o depois. No auge, ele se sente como tormenta, tornado e vulcão — força desmedida, impulso e incandescência. Quando ela parte — “porque tú volaste de mi nido” (porque você voou do meu ninho) — sobra o vazio: “soy un volcán apagado” (sou um vulcão apagado), metáfora direta da perda de calor, energia e propósito. “Hiciste que los días se hicieran noches” (Você fez com que os dias virassem noites) guarda duplo sentido: noites de paixão que engolem os dias e, depois, a sombra que escurece a rotina. Lançada em 1978 e escrita, arranjada e produzida por Rafael Pérez Botija, a canção condensa intensidade e brevidade, enquanto a interpretação de José José leva o ouvinte do êxtase ao silêncio, restando apenas a memória do calor.