Assum Branco

Contraponto poético entre dor e esperança em “Assum Branco”

“Assum Branco”, de José Miguel Wisnik, estabelece um diálogo direto com “Assum Preto”, de Luiz Gonzaga, mas propõe uma inversão significativa. Enquanto a canção de Gonzaga associa o "assum preto" à tristeza e ao sofrimento do sertão, Wisnik utiliza o "assum branco" para sugerir uma abertura à luz e à esperança, mesmo que permeada pela melancolia. O título já indica esse contraste, e a letra reforça a ideia ao afirmar: “Pois o só do meu sofrer / Bateu asas e voou”. Aqui, Wisnik sugere que o sofrimento, quando compartilhado, pode se transformar em um sentimento de comunhão, criando uma felicidade paradoxal: estar só, mas acompanhado pelo canto do outro.

A canção também traz influências da poesia trovadoresca e popular, perceptíveis na musicalidade dos versos e nas imagens simples, porém sofisticadas. No trecho “E onde a graça de viver / Como a chuva no sertão / Fez que onde for / Lá se encontre a flor / Que só há no coração”, a chuva, símbolo de esperança no sertão, é associada ao florescimento interior. Isso sugere que a verdadeira alegria nasce do afeto, mesmo em meio à escuridão. O verso final, “Assum preto foi / Asa branca dói / Muito além da solidão”, reforça a coexistência entre dor e esperança, mostrando que a música propõe uma travessia emocional que ultrapassa o isolamento e alcança uma dimensão de encontro sensível e poética.