Devil

A dualidade da paixão criativa em “Devil” de Jutes

O ponto central de “Devil”, de Jutes, é a revelação de que a música não fala sobre um relacionamento amoroso, mas sim sobre a relação intensa e conflituosa do artista com a própria música. Apesar de a letra sugerir um romance tóxico, Jutes explicou que versos como “You bring the devil out of me” (Você traz o diabo à tona em mim) são uma metáfora para o poder irresistível e, ao mesmo tempo, destrutivo que a música exerce sobre ele. Isso fica evidente em trechos como “Lay up in my bed for you / Give up all my friends for you / I feel second best for you” (Fico deitado na cama por você / Abro mão de todos os meus amigos por você / Me sinto em segundo plano por você), que mostram os sacrifícios pessoais feitos em nome da carreira musical, incluindo o afastamento de amigos e a perda de paz interior.

A letra também aborda o paradoxo de buscar algo que traz prazer e sofrimento ao mesmo tempo. Frases como “I never fully have control / You bring the devil out of me” (Nunca tenho controle total / Você traz o diabo à tona em mim) e “Losing you is suicide / ‘Cause you’re all that I have” (Perder você é suicídio / Porque você é tudo o que eu tenho) reforçam a ideia de dependência e perda de autonomia, sentimentos comuns para quem vive intensamente a busca pelo sucesso artístico. O uso de drogas como tentativa de aliviar a pressão aparece em “These drugs don’t work no more / They make me paralyzed / They make you come alive” (Essas drogas não funcionam mais / Elas me deixam paralisado / Elas fazem você ganhar vida), mostrando o desespero e a presença constante da música nesses momentos. Assim, “Devil” expõe o lado sombrio da paixão criativa, onde a entrega total à arte pode ser tanto uma salvação quanto uma prisão.