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Selvática

Karina Buhr

LetraSignificado

    Refaço! Rechaço!
    Não lhe devemos nada
    Não nos verás na escuridão como capacho
    Nos temporais amargos
    Dias penumbrosos anoitecidas
    Não moverás do corpo um pelo
    A tempestade é vencida.
    Selváticas, por amor ensandecidas não as tocarão
    Manadas apedrejantes
    Selváticas, de vitórias surpreendentes munidas
    Cavalgam amazonas delirantes.
    Guerreira que bebe sangue
    Arco e flecha do daomé
    Viço de bicho, ebó de mangue
    Jurema da favela
    Óleo de palma pra ela
    Alma na planta do axé.
    O eclise perdurará
    Acharas palha no agulheiro e transmutarás!
    Perfurarás o mal seu e o alheio
    E o enforcarás com o cipó da própria raiz segura
    Costura de árvore nas alturas
    Não espirrarás tua violência amanhecida
    Tantas vezes na aprovação da multidão
    Tua sanha virará só coração sem mais arranhão nem ferida
    Choro trufado, pedregoso umedece
    O olho arranhando refinando a vista embargada
    Guerrilheira curda vitoriosa nas curvas das serras teimosas
    Mulheres, conforme a espécie na gerra esbravejam a dor
    Da terra em uivos lhe crescem pupilas ruivas, uvas bacantes
    Semeadas, oliveiras palestinas suculentas
    Avisam: Já não há quem possa!
    Chifre de marfim nascem devagar a empurrar
    Entremeando os cabelos
    Afiam-se - dentes - pontas - de - diamantes
    Estraçalhadores fulminantes de pecadoras maçãs.
    Vãs as imagens delas conforme a sua
    Semelhança bailarão lança e festança
    Extirparão o sumo da memória criminosa
    Refarão a história e a prosa de tuas eternas
    Inquisições de fogueiras em beiras de abismos baderneiras flamejantes ciganas a postos abafarão os berreiros
    Constantes em fogosas rosas gigantes
    Filhos meus, os seus e os nossos.
    Selváticas, elas não necessitam seu elogio
    Ela transgride sua orientação
    Refeito o começo bíblico não ferirás nenhum corpo por ser
    Feminino com faca, ou murro, ou graveto
    Eu te prometo
    Sedarás o mal, interceptarás no meio do caminho o espeto
    Super heróis de duas vítimas estancadas
    Agora és delas a espada e não o algoz.
    Selvática, ela come a selva de fora
    Ela vem da selva de dentro!
    Selvática, ela pare a própria hora
    Ela vale em pensamento!
    E no final ideal não terás domínio sobre mulher alguma!
    No final ideal não terás domínio sobre mulher alguma!


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