O último adeus de um vaqueiro
Kelvin do Acordeom
Já fui um vaqueiro novo, mas estou velho acabado
Com 69 anos, faz um mês que estou prostado
O doutor disse ao meu povo, que eu estou desenganado
Campeei 60 anos, brincando de mundo a fora
Quem já fui eu no passado e quem estou sendo agora
Essa saudade que sinto, me mata antes da hora
Já saí pra tantas festas hoje não posso sair
Bebi tanta pinga boa, dia e noite sem cair
Hoje só vejo remédio sem poder mais engolir
Soluçando de saudade dou adeus a minha sela
Peço a minha família que se puder guarde ela
Pra recordar das carreiras que já dei montado nela
Adeus porteira e cancela, estribaria e bebida
Adeus currais, adeus campos, adeus pátios e corridas
Há se Deus ainda me desse mais alguns anos de vida
De tudo na minha vida eu tenho recordações
Adeus queridos vaqueiros, colegas dos meus sertões
Fiquem brincando por mim nas festas de apartações
Adeus rebanho de gado que engordei com capim
Conservei com tanto gosto, mas estou quase no fim
Quem será de hoje em diante que vai lhe zelar por mim
Dou adeus a meu cavalo lembrando a bondade dele
Já que Deus quer me matar, também deve matar ele
Pra ninguém ver outro homem pegar boi montado nele
Adeus meu querido filho que foi meu melhor amigo
Adeus minha velha esposa, rainha do meu abrigo
Se fosse pelo meu gosto, vocês morriam comigo
Meu patrão estou chegando no momento derradeiro
Bote a vela em minha mão, me perdoe se fui grosseiro
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